Périplo Interior

Périplo Interior

Como descrever sensações? Que palavras tenho para que o outro me perceba? Como se explica o que se sente? Bom, não se explica. Não há possibilidade de tradução entre as duas linguagens, a linguagem do corpo, ou da língua, e a linguagem que utiliza o alfabeto. A questão de descrever por palavras as sensações do meu corpo ou da minha mente é uma questão que habita um mundo de tradução mágica. Haverá sempre, claro, uma pequena dúvida: nunca poderei ter a certeza de que o outro pensará, ou sentirá o mesmo que eu. Porque há uma diferença radical entre a palavra que escrevo e a sensação que descrevo. Por isso, esta categoria que designei de Périplo Interior, tenta de alguma forma, romper os raciocínios habituais, usando, ou tentando usar, uma nova associação de palavras. Valendo-me assim, da imaginação da linguagem, como um meio para pensar, e dizer algo de novo. Ou talvez, algo tão velho como o mundo. Porque posso dizer-vos como estou, como penso, como sinto, mas não vos posso dizer quem sou. Se dissesse a verdade, e ela se entranhasse nos vossos ossos, se espalhasse pelas vísceras, se fizesse parte da vossa corrente sanguínea, ainda assim, vocês não me acreditariam. Por isso, só me resta mentir através da mais pura das formas. A poesia.

© Fernando Kaskais

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